O tratamento atualizado da UCE (urticária crônica espontânea) foi definido em reunião realizada virtualmente por causa da pandemia de COVID19 em dezembro de 2020, e publicado oficialmente no início de 2022. Na ocasião, mais de 200 especialistas de todo o mundo discutiram os aspectos mais relevantes que deveriam ser considerados em termos de objetivos do tratamento e como alcança-lo. Este documento, o Consenso Internacional para o Diagnóstico e Tratamento da Urticária, teve expressiva participação de brasileiros, e é endossado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Algumas considerações são importantes e devemos discutir antes de abordar o tratamento atualizado da UCE:
- A UCE é uma doença crônica com grande impacto na qualidade de vida;
- A UCE não é causada por fatores emocionais ou psicológicos;
- A UCE não é causada por fatores externos como alimentos, roupas, produtos de limpeza, etc;
- O mecanismo da UCE envolve a produção de auto–anticorpos, que levam a liberação de histamina na pele, substância esta que provoca o aparecimento dos sintomas;
- O tratamento deve ter por objetivo o controle completo dos sintomas (visando a melhor qualidade de vida possível);
- Ferramentas para avaliação de controle e atividade da urticária (UCT e UAS7) devem ser utilizadas juntamente com os critérios clínicos, para se acompanhar a evolução do tratamento;
Assim, recomenda-se que o tratamento atualizado da urticária seja feito em 3 etapas:
- 1ª ETAPA: anti–histamínicos de 2ª geração, com doses que variam de acordo com a intensidade do quadro e experiência do médico assistente – eles bloqueiam a ação da histamina e, consequentemente, melhoram os sintomas;
- 2ª ETAPA: omalizumabe, um anticorpo monoclonal anti-IgE, que ao bloquear os auto-anticorpos impede a liberação de histamina; pode ser usado em doses mais altas nos casos em que a resposta é parcial às doses habituais.
- 3ª ETAPA: ciclosporina, um imunossupressor que diminui a resposta imunológica e a hiperreatividade cutânea que existe na urticária; está como 3a etapa porque, apesar da eficácia, é o que tem maior risco de efeitos colaterais.
É importante saber que cerca de 40% dos pacientes com UCE não respondem ao tratamento com anti-histamínicos isolados e, portanto, devem ser tratados com os medicamentos de 2ª e 3ª linhas, nesta ordem. Estas etapas do tratamento devem ser acompanhadas de perto pelo especialista em alergia ou dermatologia. Em nenhuma destas etapas vemos o uso de corticosteroides, sejam ele por via oral ou injetável. Assim, não se utiliza corticosteroides para o tratamento atualizado da UCE.
Notem que o tempo para obtenção de resposta varia entre cada tipo de tratamento. Com o uso dos anti-histamínicos, 15-30 dias é um tempo suficiente para se verificar resposta. O tempo para resposta com o omalizumabe pode variar entre alguns dias até 6 meses. E para a ciclosporina, não devemos considerar que houve falha de tratamento antes de 3 meses de observação.
Realizando o tratamento da forma adequada, mais de 92% dos pacientes irão controlar os sintomas. Com isso, estes pacientes poderão ter uma excelente qualidade de vida. A UCE não dura a vida toda, e um dia irá parar de se manifestar. Por isso é fundamental que seja feito um acompanhamento regular com o especialista, que poderá avaliar o melhor momento para reduzir as doses ou até interromper o tratamento.